sexta-feira, 10 de abril de 2009

Meditação - Sexta-Feira Santa

Santo Tomás de Aquino fala-nos sobre a Paixão de Nosso Senhor como exemplo para nossa vida:

Como disse S. Agostinho: A Paixão de Cristo é suficiente para ser o modelo de toda a nossa vida. Quem quer que queira ser perfeito na vida, nada mais é necessário fazer senão desprezar o que Cristo desprezou na cruz, e desejar o que nela Ele desejou.

Nenhum exemplo de virtude deixa de estar presente na cruz. Se nela buscas um exemplo de caridade, - ninguém tem maior caridade do que aquele que dá sua vida pelos amigos (Jo 15,13).
Ora, foi o que Cristo fez na cruz.
Por isso, já que Cristo entregou a sua vida por nós, não nos deve ser pesado suportar toda espécie de males por amor a Ele. O que retribuirei ao Senhor, por todas as coisas que Ele me deu? (Sl 115,12)

Se procuras na cruz um exemplo de paciência, nela encontrarás uma imensa paciência. A paciência manifesta-se extraordinária de dois modos: ou quando alguém suporta grandes males pacientemente, ou quando suporta aquilo que poderia ser evitado e não quis evitar.
Cristo na cruz suportou grandes sofrimentos: Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor igual à minha! (Je 1,17); Como a ovelha levada para o matadouro, e como o cordeiro silencioso na tosquia (1 Ped 2,23).
Cristo na cruz suportou também os males que poderia ter evitado, mas não evitou: julgais que não posso rogar a meu Pai e que Ele logo não me envie mais que doze legiões de Anjos? (Mt 26,53)
Realmente, a paciência de Cristo na cruz foi imensa! Corramos com paciência para o combate que nos espera, com os olhos fitos em Jesus, o autor da nossa fé, que a levará ao termo: Ele que, lhe tendo sido oferecida a alegria, suportou a cruz sem levar em consideração a sua humilhação (Heb 36,17).

Se desejares ver na cruz um exemplo de humildade, basta-te olhar para o crucifixo. Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer: A vossa causa, Senhor, foi julgada como a de um ímpio (Jo 36,17). Sim, de um ímpio, porque disseram: Condenêmo-lo a uma morte muito vergonhosa (Sab 2,20).
O Senhor quis morrer pelo seu servo, e Aquele que dá a vida aos Anjos, pelo homem: Fez-se obediente até à morte (Fil 2,8).

Se queres na cruz um modelo de obediência, segue Àquele que se fez obediente ao Pai, até à morte: Assim como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores; também pela obediência de um só homem, muitos se tornaram justos (Rom 5,19).

Se na cruz estás procurando um exemplo de desprezo das coisas terrenas, segue Àquele que é o Rei e o Senhor dos Senhores, no qual estão os tesouros da sabedoria, mas que na cruz aparece nu, ridicularizado, escarrado, flagelado, coroado de espinhos, na sede saciado com fel e vinagre, e morto.
Não te deves apegar às vestes e às riquezas, porque dividiram entre si as minhas vestes (Sl 29,19); nem às honras, porque Eu suportei as zombarias e os açoites; nem às dignidades, porque puseram em minha cabeça uma coroa de espinhos que trançaram; nem às delícias, porque na minha sede deram-me vinagre para beber (Sl 68,22).
Comentando este texto da Carta aos Hebreus - Que, apesar de lhe oferecerem alegria, suportou a cruz, desprezando a humilhação dela (12,2) -, Agostinho nos diz: O homem, Cristo Jesus, desprezou todos os bens terrenos, para mostrar que devem ser desprezados.

(In
"Exposição sobre o credo", Ed. Loyola, São Paulo, 1994, trad. de D. Odilão Moura, OSB)

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